Sim. Vivemos numa ditadura. Mesmo que velada. Mas calma, pois não estamos falando de política e sim de corrida.
Estou nessa área há 15 anos como treinador e corredor. Durante esse período, pude observar o boom da área. Sou de uma época em que existiam pouquíssimas clínicas de fisioterapia, lojas especializadas, treinamento funcional específico para corrida, testes de pisada para corredor, opções diversas para tênis, dentre outros acessórios do universo da corrida.
Porém, a mudança mais sensível foi o controle de pace via relógio e diversos outros dados (Distância, cadência, tempo de contato, amplitude de passada). Até 8-10 anos atrás, você sabia quanto havia feito de distância conhecendo o percurso. Na Cidade Universitária (USP), por exemplo, tínhamos os trajetos de 6, 8 e 10 e 12km. O “mapinha” era conhecido de todos os corredores e obrigatório em todo treino. Hoje, dificilmente você encontrará um corredor sem um relógio com GPS.
Essa mudança foi um avanço fantástico! Para corredores, deu liberdade para controlar e variar seus treinos. Para treinadores, o olhar mais crítico e análise de desempenho se tornaram de fato possível. Mas nem tudo são flores. Essa tecnologia também desencadeou em alguns corredores a busca incessante e obsessiva pelo melhor pace, trazendo com ela a análise do companheiro de treino, seja através de perguntas diretas ou seguindo o pace alheio em redes sociais.
Em resumo: o pace se tornou uma cobrança individual, mas também coletiva. Quem nunca teve que responder essas perguntas após um treino ou postagem nas redes:
– Qual trecho você fez?
– Está correndo para pace de quanto?
– Não tá mais treinando longo?
– Tá devagar esse pace, hein?
– Só isso? Tá mole, hein?
E diversas outras perguntas que podem surgir.
Como não deixar o pace definir sua satisfação?
Redes sociais são fantásticas e ajudaram muito a difundir o treinamento de corrida no Brasil e no Mundo. Quero deixar claro que muitos (ou a maioria) dos comentários são para motivar e ajudam de fato a dar gás nos treinos. Tanto presenciais quanto na Internet. Mas isso não muda o fato ( e quem é corredor sabe) que treinos postados na maioria das vezes são aqueles que consideramos “divulgáveis” em termos de desempenho.
Por isso digo que hoje vivemos a ditadura do pace. Somente o treino bom é o que vale. O que a nossa “sociedade” de corredores aprova, tanto em tempo quanto em velocidade. E isso é muito perigoso.
Como treinador, devo admitir que tenho um prazer especial em treinar corredores que buscam se superar, tentando evoluir sempre. Porém, procuro colocar um freio quando percebo que sua cobrança individual para alcançar um resultado se torna mais uma pressão exagerada do que um desafio difícil. Já tive alunos chorando na minha frente porque não baixaram em 5 segundos um pace. Isso claramente para mim é o momento que se cruza a linha do razoável.
Viva o seu momento, seu pace, sua história. Gosta de publicar treinos? Não se paute se eles não forem fantásticos para os outros nem para você. Nada na vida é fantástico sempre. Na verdade quase sempre NÃO É. Corra com a sua verdade, sendo ela competitiva ou não.
Darlan Duarte é treinador de corrida e fundador da Pacefit Assessoria Esportiva
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